miércoles, 10 de noviembre de 2010

Banheiro público

Chega a hora da despedida. Poderia passar mais tempo por aqui mas tenho que começar a mover me. Rumo ao sul, pela costa leste indiana. 20 horas de trem até Puri. Ex reduto hippie. Durante os anos 70 essa cidade da costa de Orissa era um dos destinos do movimento paz e amor. Caminho pelos becos de Varanasi. Não me perco mais. Depois de onze dias aqui meus sentidos já reconhecem o caminho. Conheço os cheiros, cores e o barulho das ruelas sagradas. Tomo um chai ao lado do Golden Temple. Acompanho o vai e vem de fiéis que visitam o templo Hindu. Alguns passam carregando flores e outros levam um pequeno pote cheio de água. Imagino que seja água dos Ganjs. Tenho curiosidade de ver o que acontece no templo mas não o suficiente para entrar. Além da preguiça, eu não curto muito entrar em templos. Tenho a sensação de invadir um local sagrado. Termino o chá e vou ao meu restaurante favorito. Peço um Chicken Thali(uma espécie de prato feito local que consiste em: arroz, chapati(pão), dal(uma espécie de curry amarelo), frango e outros dois tipos de vegetais). Enquanto como escuto um show de música indiana clássica. Em tão pouco tempo essa cidade me conquistou. Já tenho meus restaurantes favoritos, meus locais de descanso e até mesmo uma espécie de rotina(que consiste em me perder, fotografar, me achar e comer). Mas a estrada me chama e não resisto ao seu chamado.

Me vejo dormindo. De repente um leão se aproxima e começa a rugir. Acordo assustado. Estou na cama mais alta de um "trilixe" e o roncar de um dos passageiros supera o barulho do trem. São três da manha e todas as pessoas parecem dormir. Desço da cama e saio do vagão. Abro a porta e ascendo um cigarro. Sinto o vento enquanto vejo o ceú estrelado. Aqui, em algum lugar no meio do caminho entre Varanasi-Puri, a luz das estrelas reina no meio da escuridão do campo. Vontade de subir no teto do trem e conversar com o vento. Mas opto pela segurança e continuo sentado ao lado da porta. Meus pensamentos vagam. Depois de um tempo o sono vem. Com a ajuda de tapoes de ouvido ignoro o rugido do "leão" gordo que dorme na cama do lado. Na manha seguinte, depois do café-da-manha, volto a me sentar ao lado da porta. Observo a vida no campo e as horas passam voando. Mas não voaram rápido o suficiente para amenizar as 5 horas de atraso. Chegamos ao destino as 22:30. Isso nos obrigou a abrir o dito Guia turístico e escolher um lugar para dormir. Depois de fazer o check-in fomos jantar. Por sorte encontramos um restaurante aberto. A cidade já estava adormecida. De volta para o hotel e directo para a cama. Durmo com o barulho do mar e esse rugido é bem vindo.

O quarto está de frente para o mar. Me levanto e caminho pela areia. Um mal cheiro invade minhas narinas. Sigo andando e descubro a origem do fedor. Estou ao lado de uma vila de pescadores. Para minha surpresa, vejo alguns pescadores de cócoras cagando no mesmo lugar em que trabalham. Tenho que me desviar de fezes e pessoas defecando. Quando saio do perímetro do banheiro público, quero dizer da vila, a situação melhora. Praia larga, deserta e relativamente limpa(sem fezes). Tomo coragem, saio correndo e mergulho no mar. Depois de um tempo faço o caminho de volta, desta vez por dentro da cidade. Ruas de terra batida e pouco movimentadas. Paro para comer. Tenho a sensação que escolhi a praia errada, espero estar enganado e encontrar um paraíso escondido em algum lugar na periferia...

1 comentario:

  1. Nossa B! Que texto lindo e inspirado! Meu preferido até agora. As fotos de Varanasi tmb estão demais!! Q privilégio essa sua trip.
    Beijos com muitas saudades.
    Ju.

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