Cheguei em Jodhpur as 08:00 do dia 25/10. Tinha que estar no "Meditation Center" antes das 16:00. Como decidi que iria passar alguns dias na cidade depois do termino das aulas preferi ir a um cyber-cafe para tomar café da manha e actualizar algumas coisas na net. Quatro horas mais tarde já não tinha nada mais o que fazer, então subi em um "auto" e fui para o centro. Chegando lá fui recebido por um ajudante chamado Amit. Ele me acompanhou até meu quarto e me explicou as regras. Tinha que seguir 5 leis:
- não matar;
- não matar;
- não roubar;
- não praticar sexo;
- não usar drogas;
- não mentir;
Haviam outras regras , entre as quais: Pontualidade, voto de silêncio, nenhum tipo de integração entre os participantes(recomendaram caminhar olhando para o chão), proibido o uso de qualquer aparelho electrónico, proibido livros e qualquer objecto que possa distrair a mente, separação entre homens e mulheres, ..., proibida a pratica de qualquer actividade física(excepto caminhar). Os horários a serem seguidos eram:
04:00 acordar
04:30-06:30 meditação
06:30-08:00 café da manha e descanso
08:00-09:00 meditação(na mesma posição)
09:00-11:00 meditação
11:00-13:00 almoço e descanso
13:00-14:30 meditação
14:30-15:30 meditação(na mesma posição)
15:30-17:00 meditação
17.00-18:00 jantar e descanso
18:00-19:00 meditação(na mesma posição)
19:00-2030 vídeo de reflexão sobre o dia
20:30-21:00 meditação
21:00-21:30 perguntas ao professor
21:45 dormir
A organização do centro providência todo o necessário para a estadia e tudo é de graça. Caso o aluno deseje é possível realizar uma doação no último dia. Me explicou que para aprender o verdadeiro Dhamma(caminho à iluminação) é necessário viver da doação de terceiros e também se comprometer completamente ao programa durante a sua duração do mesmo.
Vipassana quer dizer insight(olhar para dentro). A técnica existe há muito tempo mas foi há 2500 anos atrás quando o príncipe Siddhattha se tornou um Buddha(ser iluminado) através dessa pratica e a partir daí foi ensinada por toda Índia e logo se difundiu pela Asia. Esse tipo de meditação não tem vínculo com nenhuma seita ou religião e pode ser praticada por qualquer pessoa independente do sexo, etnia ou religião.
Voltando a minha experiência. O ajudante veio me chamar para jantar. Comida vegetariana e sem sal, o que seria uma constante nos próximos dias. Depois do jantar uma palestra do professor e um vídeo informativo do S.N. Goenka, actual mestre Vipassana. As 20:00 fui ao quarto e esperar até a manha do dia seguinte para o começo oficial do curso.
Às quatro da manha o alarme toca. Cinco minutos depois um sino começa a soar. Sonolento me levanto, me visto e alongo um pouco. Ao entrar na sala principal vejo trinta almofadas divididas em cinco fileiras. Quatro fileiras no lado esquerdo reservadas aos homens e a restante ao lado direito para as mulheres. Em total somos 18 estudantes, todos indianos menos eu. O professor sentado no fundo da sala coloca uma fita cassete para tocar. É uma gravação do Goenka na qual ele explica os primeiro passos da técnica. Ao longo do dia as horas de meditação consistiram em observar a respiração natural(pelo nariz e sem forçar um ritmo). A minha mente se acalmou rapidamente e na mesma velocidade o meu corpo começou a reclamar das dores musculares. Normal, era a primeira vez na vida que meditava e há anos que não pratico nenhum tipo de actividade física. Quando volto para o quarto as 21:30 tomo uma ducha e apago.
No segundo dia acordo sem dificuldades mas ainda sinto uma leve dor nas costas. Hoje, além de observar a respiração tenho que estar atento à entrada e saída do ar. As dores nas pernas são muito forte mas decido bancar o macho e as ignoro. Me surpreendo ao perceber que já fazem mais de 48 horas sem nicotina e não tenho nenhuma vontade de ascender um cigarro. Ao final do dia peço ao professor autorização para sentar me junto à parede para apoiar as costas em caso de muita dor. Ele autoriza. Os vídeos do mestre as 19:00 inspiram confiança e vontade de seguir esforçando-me a dominar a minha mente.
Do terceiro ao quinto dia passamos a observar sensações na região do rosto, principalmente no nariz e acima do lábio superior. Nos ensinam que nada é permanente. Todas as sensações vem e vão e todas elas, sejam positivas ou negativa, são iguais. Durante esses dias a minha postura melhora e as dores apesar de presentes não afectam a minha concentração. Já me acostumei com os horários e tenho acordado sem o despertador. É impressionante como o corpo muda tão rapidamente.
O sexto dia veio e com ele vários sentimentos. Insegurança, raiva e vontade de desistir. A dor física aumentou e minha mente tentava me convencer de arrumar minhas coisas e sair dali. Ao final do dia procurei o professor e expliquei a situação. Ele riu e disse: "Just like the body sensations your emotions will come and go. And this need of running away is nothing more than your old lifestyle trying to recover control. Work patiently and persistently." Fui ao quarto e meditei deitado, adormeci.
Acordei no sétimo dia me sentido melhor e decidi ir até o final. O calor estava insuportável, algo em torno aos 35 graus, e a concentração era difícil. Insisti por um tempo mas também não lutei muito já que nessa altura do campeonato já estava convencido que a melhor atitude é a da observação e não a da reaçao. Com essa mentalidade os últimos dias se passaram. Bons e maus momentos se entrelaçavam e eu os observava. Senti que minha meditação ficou mais forte e que controlava melhor a minha mente. Estava pronto para concluir o curso sentindo muita positividade.
Na manha do décimo dia, na última hora de meditação uma dor começou a me incomodar. Sentia uma palpitação na altura do rim direito como se fosse uma dor no lombar muito forte. Em dez minutos me levantei e se tornou insuportável. Me levantei e me dirigi à porta. O assistente me seguiu e apontou ao meu lugar. Olhei no fundo de seus olhos e nesse momento a intensidade da dor era tanta que lágrimas começaram a brotar de meus olhos. Ele entendeu que era sério e me acompanhou a sala ao lado, aonde poderia meditar deitado. Ao terminar essa sessão fui ao quarto e tomei um Tilenol. Em meia hora a dor começou a diminuir e logo passou. O professor ao me ver sorriu. Logo me disse que tinha muita sorte porque dores tão intensas significam que a mente esta purificando feridas muito graves. Cheguei até a noite sem nenhuma dor. Agora só faltava assistir um vídeo e ir para a cama. Arrumei o mochilao e tomei um banho demorado. Acordei na manha seguinte com muita satisfação por ter concluído esse intensivo. Foi uma das experiências mais significativas da minha vida. Não pela meditação em si mas pelo auto-controle e pela superaçao das dificuldades. Recomendo essa prática a todas as pessoas, mas tenham em mente que o esforço físico é enorme então vale a pena uma preparação prévia. Dez dias sem fumar, sem falar, sem comunicação, sem distraçoes e em pleno contacto comigo mesmo. Concordo com o que Goenka falou no primeiro video: "Even if you finish the course knowing that you won´t do vipassana never again you´ll go out being the Master of your Mind"
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