jueves, 30 de septiembre de 2010

dois dias atras....

Do ónibus ao albergue.
Do albergue ao hotel.
Do hotel a fila.
Da fila para dentro.

6 da manha

Vejo o nascer do sol sentado em um banco de mármore branco. De plano de fundo uma das maravilhas do mundo: o Taj Mahal. Parecia mentira que eu estava ali. Tipo um sonho, no qual um pintor de estatura descomunal tivesse colocado ali uma tela gigante e pintado sua obra-prima. Tive a sensação de que se me levantasse e começasse a caminhar em direçao à construção acabaria por descobrir que nao passava de uma ilusão. Após deixar meus sapatos sujos com o "guardador de sapatos" avancei em direçao ao monumento. Com meus pés nús e um pouco menos sujos entrei no grande edifício branco. Avancei sonambulando. Durante eternos segundos permaneci, só, admirando a arte esculpida nas paredes do malsoleu. Fui arrancado de meu estado onírico ao escutar gritos. Um rebanho de mais de 20 turistas japoneses haviam invadido o local. Vinham armados com mega cameras e seus respectivos olhos puxados. Saí correndo, tinha medo de ser atropelado por tal manada. Voltei ao meu banco e observei a transformação do ambiente. Pouco a pouco, o que antes era uma das paisagens mais bonitas do mundo se transformou em um formigueiro. Todas formigas parecem trabalhar como fotógrafas. Hora de sair de Agra. Olhei para trás uma última vez e antes mesmo de conseguir enforcar o Taj um grupo de turistas alemães esbarraram em mim. Turistas de cartão postal, "super educados". Mas nao importa, por mais que esbarrem, gritem ou corram, nenhum deles conseguirá apagar de minha memória aqueles minutos mágicos que vivi durante o nascer do sol...

martes, 28 de septiembre de 2010

preguiça boa

De volta a Delhi. Como um "dejavu". Gourgon. Periferia. Zona norte. Igual a nossa Zona Sul. Carros importados. Pessoas mal-educadas, fantasiadas de ocidentais. Chego na casa do pessoal do Couch Surf. Jogando Playstation. Tomando brejas. Comendo pizzas do Domino´s. Estou na Índia? Brasil? Espanha? Nao faz diferença...

Em qualquer lugar do mundo uma capital é uma capital. Na era da internet, de filmes 3 D e música electrônica qualquer grande cidade é igual.

Sociedade diferente. Cultura diferente. Pessoas vestem as mesmas roupas. Escutam as mesmas músicas. Falam sobre as mesmas coisas.

Facebook;
Futebol;
Festas;

Preguiça. Tudo igual. Igual e confortável. Preguiça. Quero Fugir. Mentira. Quero Seguir. Seguir viagem. Viagem com rumo. Rumo ao diferente. Diferente é bom. Bom é ser feliz!

Felicidade = Liberdade

lunes, 27 de septiembre de 2010

My name is Bond, James Bond

Chegamos em Udaipur, a cidade romântica. Esse lugar é um oásis no meio do deserto. Quando foi construída, há 500 anos atrás, o Maharana Udai Singh II mandou represar vários rios criando assim um grande lago artificial. Também é conhecida como a cidade dos lagos ou Veneza do oriente. Os habitantes locais tem bastante orgulho de sua história e isso se reflecte na organização e limpeza da cidade. Em 1983 foi utilizada como set de filmagem de "James Bond - Octopussy". Caminhávamos pelo centro quando encontramos algumas pessoas que conhecemos em Mt. Abu. Agora formávamos um grupo de sete(Kevin, eu, uma inglesa chamada Julia, três israelitas e uma polaca). Fomos jantar em um "roof-top restaurant" e ver Octopussy. Foi uma experiência divertida, a medida que o filme avançava reconhecia ruas e palácios que havia visto durante o dia. Marcamos de nos reunir na manha seguinte para seguir com a nossa excursão particular. Passamos a manha seguinte visitando o Palácio. Almoçamos em um restaurante à beira do lago. Enquanto esperávamos a comida acompanho com os olhos a intensa vida nas margens do lago. Mulheres lavando roupa, criança pulando da ponte e nadando, um barco cheio de turistas japoneses navega num ritmo tranquilo, um senhor idoso tomava um banho e um casal namorava com os pés dentro d´água. Terminando de comer fomos acompanhar a procissão de um festival religioso. Era o último dia do festival de Ganesha(Deus com cabeça de elefante e conhecido como "removedor de obstáculos"). Pessoas de todas as idades se aglomeravam nas ruas. Cantando e dançando acompanhavam imagens do Deus, levadas por carroças, tratores ou no ombro dos devotos. Ao chegar na beira do rio depositavam as imagens em suas águas. A festa foi até tarde. Por volta das dez voltamos ao hotel. Decidimos ficar mais um tempo por aqui. Eu poderia facilmente passar um mês em Udaipur.

sábado, 25 de septiembre de 2010

17/09/2010

Passagem por Mt. Abu. Cidade de apenas 22.000 habitantes, cituada na maior montanha do Rajasthan. Turismo local bastante explorado e poucos extrangeiros. Vale a pena passar alguns dias. Recomendo um trekking e acampar pela montanha. O melhor foi conhecer Champak, nosso guia. Natural de mt. Abu havia estudado em uma escola inglesa e era apaixonado por futebol. Apesar de aposentado seguia sendo o lateral esquerdo do time dos taxistas. Com orgulho contou que era canhoto e que foi o artilheiro no ultimo campeonato. Alem de taxista, jogador de futebol e guia florestal o Sr. Champak havia vivido dois anos em Dubai trabalhando de joquei nas corridas a cavalo. Nosso passeio pela reserva florestal durou cinco horas mas pelas historias que nosso guia ia contando a medida que caminhavamos pareceu que haviamos estado ali pouco mais de meia hora.
fim do post, amanha Udaipur.

miércoles, 22 de septiembre de 2010

voltinha pelo deserto com direito a cervejinha

As cinco da manha chegamos em Jaisalmer. O pessoal da guesthouse de Jodhpur havia reservado um quarto para nós. O novo albergue enviou um carro para nos buscar. Deixamos as malas no quarto e fomos dar uma volta pela cidade. Subimos no escuro mas ao alcançar as muralhas o dia começou a clarear. A medida que a luz batia nas paredes a cor amarela substituía o negro das sombras. Ao chegar no ponto mais alto nos sentamos para apreciar o nascer do sol. Quando já estava claro o suficiente vimos a paisagem desértica que rodeia a cidade. Por volta das nove começo a sentir dores e volto para o hotel. Às 15:00 Kevin volta para o albergue para me chamar para o almoço. No caminho paramos em uma agência chamada Trotters, especializada em safaris à Camelo. 750 rupias por dia. O valor incluía comida, água mineral, chá, guias, o trajecto de jipe e um camelo por pessoa. Na cidade existe uma centena de agências. Essa é uma das poucas recomendadas pelos guias turísticos(por exemplo o lonlely planet). Apesar de normalmente não seguir o que está escrito nos guias, decidimos abrir uma excessao. Havia escutado o relato de vários viajantes que tiveram péssimas experiências durante tais safaris(desde diarreia até furto). Consegui baixar preço a 650 rupias e então fechamos o trato. De lá fomos à um restaurante chamado Milan. Comida típica non-veg. Pedimos um "Chiken-Korma" acompanhado de arroz e pão. Foi a melhor refeição das últimas semanas. 140 rps por cabeça. A dor ainda persiste e volto ao albergue. Amanha as cinco sairemos em direçao as dunas, levando minha pedrinhas para uma volta à camelo.
Check-out. Saímos da espelunca e fomos à agência. Um jipe nos esperava. O grupo era de quatro pessoas, nós dois e um casal(um indiano e uma francesa). O trajecto de carro durou 1h 1/2. Chegamos em uma vila perdida no tempo. A uma distância de uns 200 metros avistei seis camelos. Fomos apresentados aos nossos guias. Dois indianos locais do deserto. Enquanto eles preparavam o café da manha dei uma volta pelo vilarejo acompanhado pelo motorista do jipe. Voltamos para comer. As nove montamos nos camelos e começamos o safari. No começo a altura do camelo impressiona e sinto as pernas um pouco incomodas. Passados alguns minutos me acostumei. Fiquei um pouco surpreso ao ver que a vegetação local era verde e abundante. Um dos guias me disse que há muitos anos não chovia mas que esse Mousson foi muito forte. Depois de algumas horas paramos para comer em baixo de uma árvore. Comida típica do Rajasthan. Tudo fresco e feito na hora. Depois do almoço o tempo fechou. Aqui estou, fazendo um safari no meio de um deserto verde e chovendo. Tudo parece um pouco surreal. Depois que a chuva parou retomamos o passeio. No final da tarde alcançamos umas dunas. Por fim areia. Desmontamos e os guias começaram a preparar o acampamento. Caminhamos até o ponto mais alto para apreciar o por do sol(nublado por sinal). Minhas pernas latejavam, se você não esta acostumado a andar à camelo eu sugiro que faça um test-drive antes de ir à um safari. Quando nos chamaram para jantar vimos chegar um visitante. Vestido todo de branco, montava um camelo mais alto que os nossos. Nos comprimentou com um gesto de cabeça. Logo nos perguntou: "Like beer?". Ainda sem acreditar no que acabara de ouvir lhe perguntei o preço. 150 rps(5 reais aprox). Recapitulando: Camel Safari, deserto verde, chovendo e agora temos um Camel Beer Delivery?¿?¿? Surreal. Compramos duas garrafas por cabeça e fomos comer. Antes de dormir olhei em volta e só via dunas e um céu estrelado de uma forma difícil de explicar. Essa sensação compensa as dores nas pernas...

sábado, 18 de septiembre de 2010

13/09/2010

No hospital há duas horas e ainda nao sabia o resultado. Supostamente pegaria um ônibus as 14:00 para sair da cidade. O dotor Goyal ao ver os exames decidiu que eu deveria fazer uma tomografia. Espero outras tres horas. As pedras ainda nao sairam e perdi o onibus. Volto para o albergue um pouco decepcionado mas decidido. Vou seguir viagem sim ou sim. Kevin e eu decidimos pegar o trem das onze para Jaisulmer. Fizemos a reserva mas estávamos na lista de espera e havia a possibilidade de nao embarcar. Nos informaram que havia um grande festival Hindu perto do nosso destino e por isso todos os meios de transporte estavam lotados. Por volta das 22:00 confirmamos os nossos bilhetes. Ao chegar à estaçao Caos. Para chegar a plataforma demoramos o triplo do tempo do normal. O trem já estava lotado e nossas poltronas ocupadas. Tentei explicar que haviamos comprado aqueles assentos. Inútil discutir com pessoas do campo que nao falam o inglês. Um senhor que passava por ali interveio à nosso favor. A situaçao só se resolveu meia hora depois quando a polícia entrou e expulsou à metade do trem por falta de bilhete. As 23:00 em ponto começamos a andar. Nem acreditei que o trem se movia e que estava saindo de Jodhpur, por fim....

Com pedra ou sem pedra!

Me sinto melhor, as dores e febre passaram. Amanha volto ao hospital para confirmar que esta tudo em ordem. No café da manha conheço um Irlandes e duas Espanholas. Eles tinham planejado um passeio pela muralha do forte. Decido acompanha-los. Saimos por volta das onze da manha. Nos perdemos pelo centro mas ao ver a muralha fomos na sua direçao. A parede de rocha parecia ser inacessivel. Após alguns minutos de caminhada encontramos uma escadaria. Começamos a subir até chegar um ponto que tivemos que escalar para prosseguir. A primeira mina sobe sem problemas, seguida por Kevin. Paula começa a subir mas fica bloqueada no meio do caminho por alguns instantes. Minha vez. Ao fazer o primeiro movimento com a perna a calça rasga. O grupo que acompanha a nossa "aventura" nao para de rir la embaixo. Por fim chegamos ao topo, mas ao chegar percebemos que estamos na muralha errada. Para piorar a situaçao a decida pelo ponto que subimos era bem perigosa. Durante esse período de indecisao uns vinte indianos nos rodeavam. Todos querendo tirar fotos conosco. Explicamos que queriamos descer mas todos riam. Ao ver que nossas caras deixavam de ser amigáveis um deles nos mostra a saída mais fácil. Em 5 minutos estávamos de volta a cidade. Fomos directos à cafeteria descançar no ar condicionado. Desistimos de subir na muralha e fomos ao forte ver o por do sol. A vista da cidade faz juz ao nome. Se ve tudo azul. Terminamos o dia no albergue tomando umas brejas. O irlandes tem mais ou menos os mesmos planos que eu e por isso decido viajar com ele pelo Rajastan. Com pedra o sem pedra, amanha sigo viagem.

jueves, 16 de septiembre de 2010

A recomendação do médico estava errada. Os remédios eram contra-indicados para o tratamento de pedra nos rins. Com o suporte da família consigo a informação correta e começo o tratamento. Os dias passam preguiçosos. Tenho muita vontade de seguir viajando. Desde domingo estou na cidade azul, a segunda maior cidade do Rajasthan. As ruas tem muita vida. O comércio, os hotéis e os restaurantes abrem suas portas à rua. O movimento de pessoas é constante. Religiões e classe sociais diferentes coexistem no mesmo ambiente. Nao posso caminhar muito porque tenho que evitar transpirar(parte essencial do tratamento das pedras é urinar o máximo possível). Passo horas sentado em bares ou cafés observando. Achei uma cafeteria que faz um bom espresso, coisa rara na Índia. O local se chama "Café Espresso" e fica próximo à torre do relógio. Além da qualidade do café o lugar tem ar-condicionado o que para a minha condição atual é perfeito. Entre cafés, cigarros e fotos vou matando o tempo. Mesmo sabendo que o tempo se mata sozinho as vezes é bom ter "armas" para acelerar o processo. Wanna hit the road ASAP!!!

viernes, 10 de septiembre de 2010

eita moça companheira...

vejo o tempo passar,
observo,
só, sozinho, desacompanhado,
mas ela sabe a hora de me fazer companhia,
chega e fica,
presente e ausente,
amiga e inimiga,
faz parte de mim e não tem nem ideia de quem sou,
ela também sabe ficar em silêncio,
só, sozinho, acompanhado,
solidão e eu,
eu e a solidão,
observamos,
juntos vemos o tempo passar,
afinal nós temos todo o tempo do mundo.

jueves, 9 de septiembre de 2010

há, na vida, algo mais belo que o inesperado?

vago sem rumo nem destino,
caminho em direção ao desconhecido...

sei quando chego sem saber quando parto,
não tenho planos e assim prefiro...

vagando e caminhando,
me perdendo logo me achando...

sigo assim, sem rumo nem destino.

martes, 7 de septiembre de 2010

parece brincadeira

Acordo sem dor. Espero o contacto do seguro até as 11:00 e nada. Ligo para a central de atendimento cobrando alguma informação. Em dez minutos recebo a notícia que me esperam no hospital Goyal. Ligo para o Sr. Namit para lhe perguntar sobre a qualidade do hospital em questão. Me disse que é o melhor da cidade e que mandaria o seu motorista me buscar no albergue para me acompanhar. Ao chegar sou informado que todos os hospitais e clínicas do estado estão em greve. A secretária se limita a dar essa informação. Ligo para o Brasil para pedir explicações. Como que me mandam ao local sendo que estão em greve. Em meia hora um indiano, responsável pelo meu seguro saúde na Índia, me ligou. Disse que falou com o dono do hospital e que ele aceitara me receber. Pego um táxi e volto. Chegando um segurança abre a porta e me acompanha até o consultório do Dr. Anand Goyal. Despois de conversarmos ele me confirma o diagnóstico, pedra no rim e me encaminha para fazer os exames. O hospital estando vazio pela greve facilita toda a operação. Em uma hora tinha os exames na mão. Resultado: algumas pedras de pequeno porte no rim direito. O Dr. me prescreve os medicamentos necessários para a expulsão das pedras. Com a tranquilidade de saber que o pior já passou volto para o albergue e descanso o resto do dia.

Segurando a onda

Se eu pensava que dez dias de meditação seriam complicados é porque eu não sabia o que viria depois...
Na manha que sai do centro vipassana comecei a sentir a mesma dor na região inferior das costas. Estava acompanhado de outros estudantes, uma senhora de Goa chamada Deborah e o senhor Namit, de Jodhpur. Tínhamos planejado uma volta pela cidade e logo almoçar na casa do Sr. Namit. No caminho a dor começou a ficar mais intensa e pedi que me acompanhassem ao albergue. Chegando lá tomei um analgésico e almocei. Uma hora mais tarde a dor aumentou. Tentei entrar em contacto com o meu padrasto, que é clínico geral, mas não consegui. Liguei então para a minha madrasta que também é médica. Ninguém respondeu o telefone. Decidi entrar em contacto com a Deborah e lhe expliquei a situação. Ela se prontificou a passar numa farmácia para comprar um combinado de analgésico, antiflamatório e relaxante muscular. Nesse intervalo de tempo recebi a ligação da Tatiana, mulher do meu pai. Explico a dor e os sintomas e ela conclui que é muito provável que seja uma pedra no rim. A dor continua e não encontro nenhuma posição confortável. Depois de 5 horas ineterruptas de dor, vomito. Nesse momento a senhora de Goa chega com os medicamentos. Trouxe também um Spray. Ao aplica-lo sinto um pouco de alívio, mas o efeito dura pouco. Consigo entrar em conctato com o meu padrasto e ele também confirma o diagnóstico feito pela Tatiana. Me disse para ir à uma farmácia e comprar um comprimido chamado Tramadol. O filho do dono do albergue se oferece para me acompanhar em sua moto. No começo não gosto muito da ideia já que uma viagem em moto não seria muito agradável nessas condições. No final, com a esperança de encontrar algo que acabasse com a dor, aceito. Subo na garupa e partimos. Na primeira parada nada, na segunda portas fechadas. Nesse momento ele me pergunta se não prefiro ir a um "mágico" para que possa ser examinado. Respondo que preferiria tentar um pouco mais. Na terceira tentativa, bingo. Ao chegar no albergue tomei o comprimido, mas na verdade já me sentia bem melhor. Parece que o passeio de moto acomodou a pedra de uma forma que não a sinto. Acciono o seguro saúde. Amanha hospital e exames. Que divertido...

reflexao

Estar na Índia:
Bem bacana

Praticar Vipassana Meditation:
Muito bom, mas trabalho duro

Estar em qualquer lugar no mundo e descobrir uma pedra no rim:
Insuportável

lunes, 6 de septiembre de 2010

Viagem ao Interior - Mester of the Mind

Meu voto de silêncio terminou hoje. Foram 10 dias vivendo como um monge. Dez dias praticando e experimentando Vipassana. Vipassana é um tipo de meditação que é feita através da observação individual e tem como objectivo alcançar a iluminação. Para que esse estado seja alcançado o indivíduo tem que aplicar na sua vida do dia-a-dia alguns conceitos e valores determinados. Antes de começar a narrativa da minha experiência quero esclarecer alguns pontos. Desde a minha adolecencia eu nunca fui uma pessoa religiosa e nunca busquei nenhum tipo de realização espiritual. Acredito que religiões e seitas são utilizadas para suprir a necessidade de respostas sobre o desconhecido e também para amenizar a dor de uma triste existência. É mais fácil esperar a intervenção divina do que correr atrás de uma vida melhor. Outro ponto que gostaria de deixar claro é como descobri esse curso. Seguindo minha política de não fazer planos eu não tinha procurado nenhuma informação sobre cursos de meditação, por mais que estivesse interessado em fazer algum durante a minha estadia na Índia. Em uma conversa com Paul ele me contou que frequentou um curso no qual ensinavam a meditação praticada por Gotama the Buddha. Esse fato foi o suficiente para convencer me de que esse era o tipo de meditação que eu experimenta ria. Depois de enviar o pedido de inscrição ele me contou que não terminou o curso. No mesmo dia fico sabendo que um amigo que mora em Sampa também tinha frequentado e abandonado o mesmo curso. Até então não entendia o porque os dois recomendavam algo que não haviam concluído.

Cheguei em Jodhpur as 08:00 do dia 25/10. Tinha que estar no "Meditation Center" antes das 16:00. Como decidi que iria passar alguns dias na cidade depois do termino das aulas preferi ir a um cyber-cafe para tomar café da manha e actualizar algumas coisas na net. Quatro horas mais tarde já não tinha nada mais o que fazer, então subi em um "auto" e fui para o centro. Chegando lá fui recebido por um ajudante chamado Amit. Ele me acompanhou até meu quarto e me explicou as regras. Tinha que seguir 5 leis:
- não matar;
- não roubar;
- não praticar sexo;
- não usar drogas;
- não mentir;

Haviam outras regras , entre as quais: Pontualidade, voto de silêncio, nenhum tipo de integração entre os participantes(recomendaram caminhar olhando para o chão), proibido o uso de qualquer aparelho electrónico, proibido livros e qualquer objecto que possa distrair a mente, separação entre homens e mulheres, ..., proibida a pratica de qualquer actividade física(excepto caminhar). Os horários a serem seguidos eram:
04:00 acordar
04:30-06:30 meditação
06:30-08:00 café da manha e descanso
08:00-09:00 meditação(na mesma posição)
09:00-11:00 meditação
11:00-13:00 almoço e descanso
13:00-14:30 meditação
14:30-15:30 meditação(na mesma posição)
15:30-17:00 meditação
17.00-18:00 jantar e descanso
18:00-19:00 meditação(na mesma posição)
19:00-2030 vídeo de reflexão sobre o dia
20:30-21:00 meditação
21:00-21:30 perguntas ao professor
21:45 dormir

A organização do centro providência todo o necessário para a estadia e tudo é de graça. Caso o aluno deseje é possível realizar uma doação no último dia. Me explicou que para aprender o verdadeiro Dhamma(caminho à iluminação) é necessário viver da doação de terceiros e também se comprometer completamente ao programa durante a sua duração do mesmo.
Vipassana quer dizer insight(olhar para dentro). A técnica existe há muito tempo mas foi há 2500 anos atrás quando o príncipe Siddhattha se tornou um Buddha(ser iluminado) através dessa pratica e a partir daí foi ensinada por toda Índia e logo se difundiu pela Asia. Esse tipo de meditação não tem vínculo com nenhuma seita ou religião e pode ser praticada por qualquer pessoa independente do sexo, etnia ou religião.

Voltando a minha experiência. O ajudante veio me chamar para jantar. Comida vegetariana e sem sal, o que seria uma constante nos próximos dias. Depois do jantar uma palestra do professor e um vídeo informativo do S.N. Goenka, actual mestre Vipassana. As 20:00 fui ao quarto e esperar até a manha do dia seguinte para o começo oficial do curso.
Às quatro da manha o alarme toca. Cinco minutos depois um sino começa a soar. Sonolento me levanto, me visto e alongo um pouco. Ao entrar na sala principal vejo trinta almofadas divididas em cinco fileiras. Quatro fileiras no lado esquerdo reservadas aos homens e a restante ao lado direito para as mulheres. Em total somos 18 estudantes, todos indianos menos eu. O professor sentado no fundo da sala coloca uma fita cassete para tocar. É uma gravação do Goenka na qual ele explica os primeiro passos da técnica. Ao longo do dia as horas de meditação consistiram em observar a respiração natural(pelo nariz e sem forçar um ritmo). A minha mente se acalmou rapidamente e na mesma velocidade o meu corpo começou a reclamar das dores musculares. Normal, era a primeira vez na vida que meditava e há anos que não pratico nenhum tipo de actividade física. Quando volto para o quarto as 21:30 tomo uma ducha e apago.
No segundo dia acordo sem dificuldades mas ainda sinto uma leve dor nas costas. Hoje, além de observar a respiração tenho que estar atento à entrada e saída do ar. As dores nas pernas são muito forte mas decido bancar o macho e as ignoro. Me surpreendo ao perceber que já fazem mais de 48 horas sem nicotina e não tenho nenhuma vontade de ascender um cigarro. Ao final do dia peço ao professor autorização para sentar me junto à parede para apoiar as costas em caso de muita dor. Ele autoriza. Os vídeos do mestre as 19:00 inspiram confiança e vontade de seguir esforçando-me a dominar a minha mente.
Do terceiro ao quinto dia passamos a observar sensações na região do rosto, principalmente no nariz e acima do lábio superior. Nos ensinam que nada é permanente. Todas as sensações vem e vão e todas elas, sejam positivas ou negativa, são iguais. Durante esses dias a minha postura melhora e as dores apesar de presentes não afectam a minha concentração. Já me acostumei com os horários e tenho acordado sem o despertador. É impressionante como o corpo muda tão rapidamente.
O sexto dia veio e com ele vários sentimentos. Insegurança, raiva e vontade de desistir. A dor física aumentou e minha mente tentava me convencer de arrumar minhas coisas e sair dali. Ao final do dia procurei o professor e expliquei a situação. Ele riu e disse: "Just like the body sensations your emotions will come and go. And this need of running away is nothing more than your old lifestyle trying to recover control. Work patiently and persistently." Fui ao quarto e meditei deitado, adormeci.
Acordei no sétimo dia me sentido melhor e decidi ir até o final. O calor estava insuportável, algo em torno aos 35 graus, e a concentração era difícil. Insisti por um tempo mas também não lutei muito já que nessa altura do campeonato já estava convencido que a melhor atitude é a da observação e não a da reaçao. Com essa mentalidade os últimos dias se passaram. Bons e maus momentos se entrelaçavam e eu os observava. Senti que minha meditação ficou mais forte e que controlava melhor a minha mente. Estava pronto para concluir o curso sentindo muita positividade.
Na manha do décimo dia, na última hora de meditação uma dor começou a me incomodar. Sentia uma palpitação na altura do rim direito como se fosse uma dor no lombar muito forte. Em dez minutos me levantei e se tornou insuportável. Me levantei e me dirigi à porta. O assistente me seguiu e apontou ao meu lugar. Olhei no fundo de seus olhos e nesse momento a intensidade da dor era tanta que lágrimas começaram a brotar de meus olhos. Ele entendeu que era sério e me acompanhou a sala ao lado, aonde poderia meditar deitado. Ao terminar essa sessão fui ao quarto e tomei um Tilenol. Em meia hora a dor começou a diminuir e logo passou. O professor ao me ver sorriu. Logo me disse que tinha muita sorte porque dores tão intensas significam que a mente esta purificando feridas muito graves. Cheguei até a noite sem nenhuma dor. Agora só faltava assistir um vídeo e ir para a cama. Arrumei o mochilao e tomei um banho demorado. Acordei na manha seguinte com muita satisfação por ter concluído esse intensivo. Foi uma das experiências mais significativas da minha vida. Não pela meditação em si mas pelo auto-controle e pela superaçao das dificuldades. Recomendo essa prática a todas as pessoas, mas tenham em mente que o esforço físico é enorme então vale a pena uma preparação prévia. Dez dias sem fumar, sem falar, sem comunicação, sem distraçoes e em pleno contacto comigo mesmo. Concordo com o que Goenka falou no primeiro video: "Even if you finish the course knowing that you won´t do vipassana never again you´ll go out being the Master of your Mind"