jueves, 30 de diciembre de 2010

Eu que queria fugir do inverno acabei me metendo numa fria

"Forças ocultas" fizeram com que meus planos mudassem aos 46 minutos do segundo tempo. Há quase um mês, comprei uma passagem de aviao pro Sri Lanka para o dia 28/12/2010, dois dias antes do meu visto indiano vencer. Tinha visto umas fotos das praias do sul do país que me chamaram muito a atençao e como parte do meu plano para essa viagem pela Asia consistia em alargar ao máximo o meu verao achei que era um bom destino. Quatro horas antes do meu embarque, ainda no meu quarto do hotel em Chennai, decidi ligar para embaixada do Sri Lanka para confirmar o preço e forma de pagamento do visto. Ao informar que era cidadao brasileiro a secretária me disse que nao era possível conseguir um "visa on arrival" e que deveria me dirigir a embaixada para dar entrada na papelada do visto. Nao era possível, tive que perguntar outras duas vezes para confirmar que nao era uma falha de comunicaçao. Desliguei o telefone e vi que o relógio marcava 16:15. Durante alguns segundos, que pareceram uma eternidade, meu cérebro bloqueou. Quando finalmente sai do estado de shock minha mente começou a buscar alternativas para a minha situaçao. O primeiro passo foi ligar à compania aérea e cancelar as passagens. Passo número dois, ligar para as embaixada do Nepal e da Thailandia para confirmar a possibilidade de fazer um visto no aeroporto. Liguei para um amigo no Nepal e lhe expliquei o que tinha acontecido. Me convidou para passar o ano novo com ele na capital. Por um instante fiquei na dúvida entre me jogar nas festas da Tailandia ou o conforto de passar a virada do ano com pessoas conhecidas. Escolhi a segunda opçao. Eram por volta das onze da noite quando consegui comprar a nova passagem. De volta ao hotel pedi um taxi para as tres da manha. Duas horas de sono e rua. Novo roteiro: Chennai - New Delhi, mini chá de aeroporto, New Delhi - Kathmandu. Enquanto escrevo essas linhas estou sobrevoando os imponentes Himalayas e em meia hora devo chegar à capital nepalesa. Trago comigo uma garrafa de Jack Daniels e umas mala cheia de experiências e histórias para comemorar o final deste ano. Espero que essa mudança de última hora seja positiva e que as baixas temperaturas do novo destino não sejam um obstáculo. Que 2011 seja ainda melhor que 2010 e que o objetivo continue sendo o caminho. On the road 2011.

domingo, 26 de diciembre de 2010

25/12/2010

Última noite em Hampi. Sentado em volta da fogueira, céu estrelado e comendo comida caseira. Feliz natal e count down Índia. Há menos de 3 dias da minha partida me sinto tranquilo. Hampi foi a escolha perfeita para terminar a viagem pelo sub-continente. Um lugar cheio de energia, que possibilita a união do corpo e da mente(e em alguns casos somasse a alma). Repasso mentalmente o meu trajecto no país de Gandhi, vejo as transformações que esta viagem esta causando no meu ser. Foram quatro meses e meio de experiências intensas. Tudo na Índia é muito intenso, até a tranquilidade é intensa aqui. Experimentei com os meus limites. Testei a minha mente com a meditação Vipassana. Dez horas de meditação por dia durante dez dias, com direito a voto de silencio e tudo. Parece que vivi isso há mais de um ano, mas na verdade se passaram apenas quatro meses. Quatro meses que sai da periferia de Jodhpur, cidade azul, carregado de Tramadol(medicamento derivado da morfina, receitado para dores agudas). Quando terminei o curso recebi como prémio de formatura quatro pedras nos rins e como o atendimento médico deixou a desejar decidi seguir viagem levando minhas pedrinhas na bagagem. Ainda grogue com o efeito da morfina subi em um trem com destino a Jaisulmer. No segundo dia expeli as pedras. Comemorei a cura nas dunas do deserto tomando uma cerveja, quase, gelada. Superada as provas do corpo e da mente, eu estava preparado para qualquer perrengue. Segui minha tour pelo Rajastan por outras três semanas. Vi as florestas de Mt. Abu, o lago sagrado em Pushkar e aproveitei os encantos da cidade romântica de Udaipur. De lá dei um pulo em Agra para ver o Taj Mahal. De volta à Delhi, com os couchsurfers mais divertidos que já conheci. Rouf e Zee me apresentaram à noite de Delhi e me prepararam para o shock cultural que estava por vir. Na capital fiz um grande amigo. Paul é de um país chamado Latvia e em esses momentos deve estar jogando poker online em algum lugar do Nepal. Segui viagem rumo aos Himalayas. Em Old Manali fiz amizade com um grupo bem divertido. Juntos escalamos, fizemos rafting, nos perdemos pela montanha e enchemos a cara quase todas as noites. Duas semanas depois entrava em um ónibus em direçao à Mcleod Ganj, terra adoptiva do Dalai Lama. Lá, visitei os mosteiros e ascendi alguns incensos. De volta à estrada e próxima parada Amritsar. Fui ao Golden Temple e tomei chá com alguns senhores que me explicaram a história da religião Sikh. Um rápido pitstop em Delhi e 25 horas de trem até Varanasi. Cidade Sagrada banhada pelos Ganjs. Ganjs de águas sagradas, nas quais nadei. Experimentei o processo cíclico de morte e vida. A casualidade me brindou com encontros e reencontros que fizeram da estadia ainda mais proveitosa. Duas semanas mais tarde Puri. Cidade na costa de Orissa aonde conheci um "hippie-médicosemfronteiras" que hospedou J. Hendrix por uma semana em Londres. Trenta e oito horas dentro de um trem rumo ao sul e Pondicherry. A ex colonia francesa foi uma pausa na minha viagem pela India. Café da manha com deliciosos croassants e espressos. Depois de tres meses sem consumir carne vermelha finalmente como um file. Novo teste de paciencia e de volta á Delhi. Tudo resolvido e rumei à Goa. No menor estado do país fiz uma nova família. Tenho uma "mãe" indiana e alguns novos irmãos que me acolheram em suas vidas por quase um mês. Foi durante esse mês que me apaixonei pela minha moto e comi estrada todo santo dia. Reencontrei alguns amigos de viagem, e com esse objectivo me dirigi à Hampi. Cidade construída no meio de um mar de pedras. Mar de energia. Aqui estou, na metade da minha viagem pela Ásia, confiante, preparado e o mais importante: feliz e realizado. Que mais poderia ter pedido ao papai noel.

miércoles, 22 de diciembre de 2010

Hampiiiiiiiii

Sentado na rede. Relaxado. Relembrando o que vivi há algumas horas. Acordei as seis da manha para ver o nascer do sol. Foi maravilhoso. A medida que o astro rei subia seus raios iluminavam a formação rochosa. O jogo de luz e sombras nesse mar de pedras termina por hipnotizar me. As pedras parecem fazer parte de algum jogo de tabuleiro no qual o objectivo é colocar las da forma mais improvável possível. Como se o cenário não fosse suficiente a energia de Hampi é impressionante. Sinto como se estivesse no mar. Tenho essa sensação de paz e energia ao mesmo tempo. Da mesma forma que observo as ondas do mar, me sento no alto da montanha para observar pedras e sentir o vento da manha. Estava realmente sentido toda a paz do mundo quando o cantar dos pássaros foi substituído por vozes nervosas. O baba(homem santo) veio acompanhado por dois oficiais de policia. Sob olhares apreensivos do dono da pousada, os agentes revistaram por completo os aposentos do Sadhu(http://en.wikipedia.org/wiki/Sadhu). Encontraram algumas gramas de hash. O circo estava armado. Pude ver os cifrões reflectidos nos olhos corruptos. Os homens da lei levaram o ancião e mais 2000 rupias do proprietário. Acusaram o Sadhu de trafico e ao proprietário de encobrir um delinquente(Os Sadhu's fumam por motivos religiosos e queimam seus documentos de identidade quando começam seus estudos e o proprietário, ao aceitar alugar um quarto para alguém sem identificação, cometeu um crime). A ganancia é o câncer do mundo. Prender um Baba por algumas gramas de cannabis é o mesmo que prender um padre católico por levar um terço. Um pouco atordoado com toda a cena saio da rede e vou dar uma caminhada. Ao caminhar pouco metros com a sola dos pés tocando a rocha quente me acalmei. Me sentei e meditei. Quando há paz interior, podem fazer o barulho que for do lado de fora que dentro tudo permanece em silêncio.

E assim como cheguei, parti

Cheio de energia e com vontade de explorar. Deixo Goa depois de rodar uns 1000 kms em moto, outros tantos a pé e alguns poucos nadados. Visitei pelo menos quinze cidades(a maioria na costa) e conheci varias pessoas, tanto locais quanto estrangeiras. Páginas do meu "pequeno diário de motocicleta" que ainda estão por escrever. Bons dias, longos dias. Experimentei estilos de vida totalmente opostos. Acordei vários dias as 6 da manha, mas algumas vezes deixei a moto em casa e me joguei na decadência de Goa ate as primeiras horas de sol. Estabeleci minha base na casa de uma senhora local. Ela me apresentou ao menor estado indiano mostrando o que há de melhor na Índia: pessoas com um coração enorme. Abriu as portas de suas casa e me deu as chaves. Me apresentou 'a pessoas maravilhosa e me levou a vários restaurantes aonde saboreei os pratos típicos. Encontrei "velhos conhecidos" . Fiz companhia a um deles que sofreu um acidente( caiu dentro de um bueiro aberto, corte profundo que infectou. Quase perdeu a perna...). Reencontrei um conhecido de Delhi, que me apresentou a um pessoal bem bacana. Dormi baixo estrelas(quando perdi a chave e fiquei trancado do lado de fora). Vi o que sobra do movimento transe. Vi russas fazendo topless(soa melhor para os ouvidos do que foi para vista). Vi o sol nascer. Passei horas dialogando com a estrada, enquanto guiava a moto. Descobri praias tranquilas. Do norte ao sul, da costa ao centro. Deixo Goa com um sorriso na cara. Sensação de missão comprida. Próxima parada Hampi...

lunes, 20 de diciembre de 2010

Saudades do que nao foi

De nome Manoela, de origem portuguesa. Sorriso maroto, sorriso sincero. E esses olhos... esses olhos que escondem um segredo. Segredo esse que ainda não tive acesso. Mulher forte, mulher bonita, mulher. Desejo de entregar me, de curtir sua companhia. Quero conhece la, passar horas fazendo algo juntos ou simplesmente juntos fazendo nada. Vontade de viver esse romance, cada dia como se fosse o ultimo. Mas nem sempre a historia segue como o corpo e alma pedem. Não sei se por falta de ocasião ou porque as circunstancias não eram muito simples(ela estava acompanhada), mas o que na cara estava escrito que era destino virou impossível. Química de olhares que não passou a química de pele. Fato que não aconteceu não e' fato, mas continua sendo desejo...

sábado, 11 de diciembre de 2010

devaneios, queridos devaneios

Sentado em um bar de praia em Goa. Mesa composta por um iraquiano, uma portuguesa, um italiano, dois indianos e um brasileiro(eu). Manu, milanese, começou a falar que a revolução psicodélica estava morta e que muitas pessoas ainda acreditam na revolução da mente mas não faziam nada em pró da mesma. A conversa tomou vários rumos e terminamos conversando sobre os dj´s que comandariam os toca discos na festa de hoje. Quando fui ao meu quarto continuei pensando sobre a dita revolução da mente. É verdade que a sociedade actual é marcada por futilidades e um egocentrismo "autodefensista", mas também é verdade que hoje temos os meios para a conscientização global. Sinto curiosidade em estudar os movimentos migratórios das últimas décadas. Saber os motivos pelos quais as pessoas migram, como os imigrantes absorvem a nova cultura e como preservam a própria. Não tenho ideia de a quantas andam as estatísticas, mas tenho a sensação que as pessoas se movem com mais facilidade e em maior número que em qualquer outra época da história da humanidade. As próximas gerações serão cada vez mais misturadas, cada vez mais globais. Como esse fato afectará a ordem que rege o mundo actualmente? Além disso a internet possibilita a veloz troca de informações e facilita a comunicação, trazendo mudanças sócio-culturais antes inimagináveis. Será que a crescente miscigenação de culturas e as facilidades que o cyber espaço traz será a chispa necessária para a revolução da nova era. Será que estamos vivênciando a criação do cidadão global? Será possível que nossos filhos e netos tenham acesso a um passaporte global e vivam em um mundo sem fronteiras? No século XXI tudo é mais rápido e a essa velocidade, quem sabe, em cem anos o ser humano alcançará um estado de consciência pró-colectivo. Quem sabe se utilizando a tecnologia disponível realizaremos a tão aclamada revolução verde. Quem sabe se em um mundo assim, global e verde, o utópico passe a ser real. Um mundo aonde todos tenhamos as mesmas oportunidades, e o fato de nascer na África, Ásia, América, Europa ou Oceania não faça nenhuma diferença. Viva o mundo global, viva a miscigenação, viva as diferenças, VIVA!

domingo, 5 de diciembre de 2010

Paixao Fulminante

A primeira vista sua forma de caminhar me hipnotizou.
So de olhar para ela a minha frequencia cardiaca disparou.
Mãos suadas com direito a friozinho na barriga.
Passamos horas juntos. Eu calado e ela sussurando roucamente em meus ouvido.
Descobri que tinhamos muito em comum. Fiquei alucinado ao perceber que juntos a fome por comer km/s e mais km/s aumentava.
Parecia que nos conheciamos de longa data, quem sabe de uma outra vida.
Senti que ela me completava, que me entendia.
Sinto o calor de seu corpo. Parecece que ardemos em febre.
Sei que existe alguma explicação para tais temperaturas, mas não entendo de onde vem tamanha paixao.
Provavelmente o fato de seu corpo ser metálico tenha algo que ver com as altas temperaturas, ja que depois de um dia encima da moto é normal que a fuzilagem esquente...
Mas de onde vem tanto amor, tanto entendimento? Isso segue sem explicação, mas a paixao nao se explica, se vive.
Ligo o motor e partimos...

miércoles, 1 de diciembre de 2010

Salve salve decadência

Parece que chego pelo menos uns vinte anos tarde na Índia. O exótico foi substituído pelo turístico. Viajar hoje é muito mais "barato" que há vinte anos. As grandes operadoras de turismo já dominam localidades antes remotas. Ir as praias de Goa significa ter o mar enfrente e uma fileira de bares atrás. Ainda é possível encontrar alguns hippies beirando os 70 mas a grande maioria são europeus atraídos pelo sol e cervejas baratas. Algo do movimento trance permanece mas nada comparado à época dourada aonde raves duravam dias à beira-mar. Ao invés de viajantes aventureiros, Goa esta repleta de turistas de "fim de semana". Me restam duas opções: fazer um brinde à decadência e me juntar a um bando de ingleses bêbados ou pegar a moto e tentar achar uma praia perdida em alguma curva de alguma estrada. Antes de pensar sinto o motor funcionando e a moto quase tomando vida própria acelerando estrada a fora...

Memórias de uma viagem de trem

Dentro do trem em direçao a Goa escuto a uma francesa de uns 60anos, vestida com um saari colorido, recitando um poema budista: "As pessoas se preparam para buscar ao Elefante lá fora e nao percebem que o elefante esta dentro de casa". O indiano cinquentao, que mora em Girona, solta em um espanhol arranhado: "El elefante esta dentro cabeza de las personas". O papo segue e filosofias de vida brotam a cada momento. Na Índia é comum encontrar pessoas de verdade empenhadas na evoluçao como ser humano(físico, mental e espiritual). É sempre bom cruzar com tais pessoas. Continuam sendo pessoas como qualquer outra, com problemas, defeitos e paranoias próprias. O que as diferenciam é a atitude que tem perante a vida. Essa atitude positiva e tranquila. Vao dentro de sua própria bolha de felicidade e esperança e sempre que possível repartem alegria por aí. Tipo campanha sorriso, paz e amor.